- sexta-feira, fevereiro 18, 2005 -

"A pele salgada, o cheiro a mar."


Cega de tanto amor,
Mergulhei no profundo do teu olhar.
Uma brisa marítima, o teu suave rumor.
A pele salgada, o cheiro a mar.

Deambulei pela água doce,
Mas como onda que vai e vem,
Selvagem, indomável por ninguém,
Partirias quando o momento certo fosse.

Partiste.
Embora tivesses marcado a tua presença
Num beijo suave e triste...

E a todo o momento revejo,
A promessa que deixaste naquele beijo,
De que voltarias em breve.
Img: Autor desconhecido
(Peço imensa desculpa pela repetição do tema principal presente no texto "Dir-me-ás o teu nome?", mas foi isto que saíu no momento... Talvez também porque foi meio "forjado" à força, para um trabalho de Português... Sabem que eu e os poemas, os poemas e eu... Não conseguimos criar-mo-nos um ao outro com facilidade.)

- sábado, fevereiro 12, 2005 -

A Pedra da Lua (parte 1)


Dormia num sono profundo, protegida pelos guardiões da noite. Tinham-na pedido de volta, em troca da protecção e de um retorno seguro para fora da floresta. Em noites de Lua cheia, os Lobos atingiam o seu esplendor, não antes sem passar por um doloroso processo de mutação, adquirindo proporções humanas. Carne rompendo, ossos estalando, numa combinação perfeita entre Homem e Lobo.
Tal transformação poderia ter o efeito inverso, não estivesse a Pedra da Lua nas mãos erradas.
Conscientes da ameaça que constituiam, uma comunidade tribal tinha trocado a Pedra da Lua por um mero pedaço de prata, guardando a pedra original num local seguro. Sem a Pedra da Lua por perto, os Lobos eram vulneráveis. Esta tinha o poder de permitir aos Lobos regressar à sua forma primitiva, mas sem ela no santuário, ficavam presos no seu corpo meio humano, meio canino. Indefesos, não podendo dissimular-se sob a aparência de um animal selvagem, os Lobos - como se auto-intitulavam, repudiando a designação de "lobisomem" - ficavam expostos a qualquer arma de prata. A própria Pedra da Lua era de prata... apenas um humano poderia fazê-la regressar.

Elhiana não os tinha visto. Ouviu as vozes na sua mente, os seus pedidos de ajuda. Mas também sentia os seus passos rápidos e leves à sua volta... ou seria apenas a natureza em movimento? Acreditou. Fazia-a sentir mais confiante, acreditar que, algures naquela floresta, Lobos a seguiam, defendendo-a e, mesmo assim, precisando dela. Fazia-a sentir-se menos perdida.
"Em frente... Sempre em frente... Ouví-los-às, a eles, a eles e aos seus tambores, às suas fogueiras, aos seus gritos bárbaros..."


(continua...)

Img: webshots.com

- quarta-feira, fevereiro 09, 2005 -

Dir-me-ás o teu nome?

Apareceste. Ali. O lugar já não interessa. Não olhei para ele, não me lembro sequer da paisagem.
Mas estavas là. Estavas perto, senti a tua presença. Estavas là. Mas não te vi. Só te senti... Aproximaste-te devagar, rodeaste-me com os braços.
Não te vi. Estava de costas. Mas senti... a tua respiração quente no meu pescoço... as palavras que sussuraste...
Não fizeste nada, deixaste-te estar. Estávamos ali - não me lembro onde -, juntos, quietos. Apenas estávamos juntos.
Queria ver-te, descobrir o teu rosto, saber quem és. Recusaste... Disseste que não da forma mais doce que só tu sabes fazer. Tapaste-me os olhos e pousaste um beijo leve nos meus lábios...
Quando destapaste o meu olhar, já não là estavas.
Tinhas partido.
Mas voltarias.
Deixaste nos meus lábios a promessa de que voltarias...
E da próxima vez, quando voltares, dir-me-ás o teu nome?

- quinta-feira, fevereiro 03, 2005 -

E se, por um mais breve momento que fosse, fosses ele?

“Acordas do teu sono pesado, levantas lentamente a palpebra... A escuridão rodeia-te, não fazes ideia de onde estás. Sentes algo aos teus pés. O que será? Mexes-te um pouco para ver do que se trata, mas não consegues. Estás preso. As coisas aos teus pés são cordas. Cordas mal feitas, apertadas aos tornozelos, demasiado apertadas... Debates-te para escapar, mas não consegues... Cada uma das cordas que te aprisiona está firmemente ligada a uma árvore forte. Não percebes o nó, não o consegues desfazer, parece-te uma raíz enrolada à tua volta.
Puxas com mais força, soltas um grito de desespero quando te apercebes de que também as tuas mãos estão atadas com as mesmas cordas... Cordas que já foram usadas antes, banhadas com o sofrimento daquele que tinha passado por elas antes de ti...
Eles repararam. Repararam que tens força, e que precisam de te acalmar... De te mandar calar e obrigar-te a ficar quieto. Porque foram eles que te adormeceram à força. Foram eles que te levaram para aquele lugar estranho. Foram eles que te tiraram do teu meio, te afastaram dos teus...
Tocam-te. Tocam o que jamais deviam ter tocado, o que jamais terias permitido que tocassem... Ficas cada vez mais nervoso, mais alerta. Com medo. Batem-te, gritam, soltam rugidos aterradores, furam-te a pele dura com coisas pontiagudas que nunca tinhas visto antes... Tu também gritas, gemidos de dor, as lágrimas escorrem-te pela face. E eles continuam... Falam entre eles, não entendes o que dizem, nunca ouviste nada igual.
A tortura continua pela noite fora, até que exausto, cais. Estás vivo, mas exausto. Escorre-te sangue, lentamente, pelas tuas feridas. Mas a ferida maior não era essa. Era saber que se tentasses debater-te mais uma vez, eles voltariam. Era saber que o preço da tua sobrevivência era a perda da tua liberdade...”
Já alguma vez se puseram na pele dele? Suponho que se perguntam quem seriam se a personagem principal foosem vocês, quem era “ele”... Quem era ele e o que teria feito para merecer tal castigo. Respondo-vos: o que ele fez, foi existir. A única coisa que fez, foi ser como é. Ser aquilo que é. Pois “ele” era um elefante. Na realidade, uma fêmea. Soa estranho mas... ser elefante em certas regiões do mundo é o mesmo que ter um bilhete de ida (só de ida) para o Inferno. São usados como “ajudantes de trabalho”. Pode parecer muito bonito, a cooperação entre espécies. E na verdade é bonito à primeira vista, não fossem os rituais realizados para ensinar o animal. Apenas o toque do homem na sua pele causa-lhe a pior das impressões... Animais que nunca tinham sido tocados antes, nunca com tanta ousadia, apenas alguns arranhões de um predador, numa vida ou noutra. Animais... Que acabam por ser menos animais que o homem...
O texto ali em cima foi o que passou num documentário na televisão. Misturado com um sonho (pesadelo) que tive depois de o ver.
Chamem-me de alguém demasiado sensível, de só me chocar com o que se passa com os animais. Mas acreditem. Não queiram estar no lugar deles.
Peço desculpa se o texto é confuso. Mas também peço que percebam que qualquer criatura nas mãos desses bárbaros sem escrúpulos ficaria com a alma num turbilhão de pensamentos confusos sem conexão. Peço desculpa pela confusão outra vez...