- segunda-feira, outubro 23, 2006 -

Os olhos brilham ao vislumbrar-te. O coração bate mais depressa, pulsando vida. Apanhas-me a mão e seguras-la com força, para que não me perca neste caminho novo.
Consigo sentir um tremor na tua mão, algo te incomoda, algo nos impede de percorrer esse novo trilho sem sentir um calafrio na espinha de vez em quando. Olho para trás uma última vez. Nunca mais. Viro costas a um campo de batalha, como uma guerreira que se apercebe que a luta que travava não fazia sentido, deixando de ver os ideais pelos quais guerrilhava como sendo reais. Uma guerreira que, agora longe do campo de batalha, observa a paisagem. Ruinas de cidades imaginárias e sangue derramado em vão - para esquecer ou guardar? Tanto faz. De qualquer forma, o que se esquece desaparece, o que se guarda nos reconditos da memória ganha pó e transforma-se nele.
Seguro a tua mão com mais força ainda: não quero que me largues, não quero que me deixes sozinha a observar a paisagem. Quero que me leves para longe, longe, tão longe... E esse longe está à distância de um passo. Basta um passo para não ver mais essa paisagem, apenas um passo nesse caminho desconhecido para não me relembrar das feições do desespero e da fádiga.
Bastou um passo para perceber que o que achava que era realidade era ilusão, e me mostrares que o que pensava que não existia se podia viver. Sempre um passo em frente ao outro, sem olhar para a linha do horizonte que divide o presente do passado e do futuro. Dessa linha em diante, sou feliz sem procurar sê-lo. Caminho em frente, de mãos dadas contigo, sem nunca largar, palmilhando, de olhos vendados, um percurso de toques de veludo, palavras doces e aromas indescritíveis. Um passo em frente ao outro, sem saber o que virá.
Porque algures no tempo uma vozinha disse-me que o mundo era nosso.