- sábado, janeiro 14, 2006 -

Grito, do mais fundo que a minha garganta permite, para que me deixem sair. Puxo a maçaneta, tento rodá-la para escapar, mas foge me por entre os dedos, as mãos escorregam quanto mais força aperto. Arranho a porta com fúria e desgasto as unhas até apenas restarem vestígios destas, presa na ilusão de que conseguiria furar a porta e fugir...
Grito, grito, grito! Mas ninguém me ouve. Ninguém quer ouvir o restolhar dos meus dedos na porta arranhada. Ninguém me devolve a chave que me prende pelo lado de fora...
Choro, mesmo sabendo que ninguém me ouve. Choro, por saber que ninguém me ouve. Porque não lhes iria entregar a vitória numa bandeja assim tão facilmente...
Mordo os lábios para impedir as lágrimas de sair. Se me ouvirem, não quero que me ouçam... Volto de novo para a porta, cravo as unhas nessa maldita porta. Sinto o sabor do sangue na minha boca, mordo com mais força para esquecer a dor nos dedos enquanto arranho. Bato, solto gritos impotentes.
Chamo, baixinho, por ti.
"Meu Anjo..."
A doçura do teu nome acalma-me, sinto dentro de mim uma resposta, algo que me mostra que estás comigo. A tua voz forte...
...do outro lado da porta.
Quanto tempo mais a arranhar esta barreira que nos separa, torná-la em milhões de pequenas lascas para que, pelo menos, me possas agarrar a mão?