- quinta-feira, fevereiro 03, 2005 -

E se, por um mais breve momento que fosse, fosses ele?

“Acordas do teu sono pesado, levantas lentamente a palpebra... A escuridão rodeia-te, não fazes ideia de onde estás. Sentes algo aos teus pés. O que será? Mexes-te um pouco para ver do que se trata, mas não consegues. Estás preso. As coisas aos teus pés são cordas. Cordas mal feitas, apertadas aos tornozelos, demasiado apertadas... Debates-te para escapar, mas não consegues... Cada uma das cordas que te aprisiona está firmemente ligada a uma árvore forte. Não percebes o nó, não o consegues desfazer, parece-te uma raíz enrolada à tua volta.
Puxas com mais força, soltas um grito de desespero quando te apercebes de que também as tuas mãos estão atadas com as mesmas cordas... Cordas que já foram usadas antes, banhadas com o sofrimento daquele que tinha passado por elas antes de ti...
Eles repararam. Repararam que tens força, e que precisam de te acalmar... De te mandar calar e obrigar-te a ficar quieto. Porque foram eles que te adormeceram à força. Foram eles que te levaram para aquele lugar estranho. Foram eles que te tiraram do teu meio, te afastaram dos teus...
Tocam-te. Tocam o que jamais deviam ter tocado, o que jamais terias permitido que tocassem... Ficas cada vez mais nervoso, mais alerta. Com medo. Batem-te, gritam, soltam rugidos aterradores, furam-te a pele dura com coisas pontiagudas que nunca tinhas visto antes... Tu também gritas, gemidos de dor, as lágrimas escorrem-te pela face. E eles continuam... Falam entre eles, não entendes o que dizem, nunca ouviste nada igual.
A tortura continua pela noite fora, até que exausto, cais. Estás vivo, mas exausto. Escorre-te sangue, lentamente, pelas tuas feridas. Mas a ferida maior não era essa. Era saber que se tentasses debater-te mais uma vez, eles voltariam. Era saber que o preço da tua sobrevivência era a perda da tua liberdade...”
Já alguma vez se puseram na pele dele? Suponho que se perguntam quem seriam se a personagem principal foosem vocês, quem era “ele”... Quem era ele e o que teria feito para merecer tal castigo. Respondo-vos: o que ele fez, foi existir. A única coisa que fez, foi ser como é. Ser aquilo que é. Pois “ele” era um elefante. Na realidade, uma fêmea. Soa estranho mas... ser elefante em certas regiões do mundo é o mesmo que ter um bilhete de ida (só de ida) para o Inferno. São usados como “ajudantes de trabalho”. Pode parecer muito bonito, a cooperação entre espécies. E na verdade é bonito à primeira vista, não fossem os rituais realizados para ensinar o animal. Apenas o toque do homem na sua pele causa-lhe a pior das impressões... Animais que nunca tinham sido tocados antes, nunca com tanta ousadia, apenas alguns arranhões de um predador, numa vida ou noutra. Animais... Que acabam por ser menos animais que o homem...
O texto ali em cima foi o que passou num documentário na televisão. Misturado com um sonho (pesadelo) que tive depois de o ver.
Chamem-me de alguém demasiado sensível, de só me chocar com o que se passa com os animais. Mas acreditem. Não queiram estar no lugar deles.
Peço desculpa se o texto é confuso. Mas também peço que percebam que qualquer criatura nas mãos desses bárbaros sem escrúpulos ficaria com a alma num turbilhão de pensamentos confusos sem conexão. Peço desculpa pela confusão outra vez...

3 Comments:

Anonymous Anónimo growled...

Não existe sossego, sem a ventania que teima inquietar o nosso pensamento. Foram as palavras que se uniram, no labirinto das minhas ideias... ao ler este texto!

terça-feira, fevereiro 08, 2005 2:25:00 da manhã  
Blogger Naerei growled...

E eles não têm sossego... Aquele arzinho feliz e sentido de "ajuda" para com o homem é só uma máscara que esconde o sofrimento...
Pelo menos, a maioria deles...

quinta-feira, março 31, 2005 1:57:00 da tarde  
Blogger Naerei growled...

Exacto mana... nunca deixes de os tentar proteger. Assim como vou fazer os meus possiveis para poder oferecer um mundo melhor aos lobos, tão postos à margem do mundo devido à estúpida crença de que são animais maus, predadores que só têm um objectivo: matar. Não vêem o animal simples por detrás dos dentes, a criatura fiel... Não conseguem perceber que também eles irão ser afectados sériamente por quebrar um elo da cadeia alimentar. Cada animal é necessário, todos têm o seu lugar. Aliás... se o Homem é, como dizem, o único animal (racional! será?) dotado de inteligência, porque será que é a UNICA espécie na Terra que mata para obter peles, que mata para retirar chifres, que abate elefantes e gorilas para fazer sofás e cinzeiros das suas patas, que chacina focas bebés pelo seu pêlo branco e macio; que destroi a Natureza para os seus próprios benefícios..?
E mais... os animais não possuem leis escritas e conseguem viver em perfeita harmonia, não precisam de seguir leis para resolver os seus problemas. E o Homem (será que ainda merece a maiúscula?), o Homem, bem... Apesar de possuir milhares de leis - que não são respeitadas -, continua a não conseguir viver em comunidade. E se não consegue viver só com Homens, quanto mais se se vir face à diversidade biológica... E depois venham-me cá dizer que os animais (sim, os que dizem ser "irracionais"!) não pensam melhor que nós...
Pois é. O Homem não só destroi o que está à sua volta, como também dá cabo de si. Talvez seja preciso também que a Greenpeace lance uma nova campanha: "Salvem os Homens deles próprios!!!".
Tenho dito.

sexta-feira, abril 01, 2005 12:37:00 da tarde  

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